sexta-feira, 28 de março de 2008

Feiras Livres: Tão amadas... Tão rejeitadas!


Lembro-me com clareza da minha infância na Zona Oeste, quando ajudava meu pai no comércio de bananas, que realizou até a década de 70, na qualidade de produtor rural dessa fruta. Cada dia que tive a oportunidade de acompanhá-lo a feira, uma nova descoberta me enchia os olhos - e, por que não dizer, a barriga.

As feiras não são meros locais para distribuição de produtos hortifrutigranjeiros. Sua importância fundamental não está na capacidade de abastecer os lares da cidade sempre com produtos frescos: está na capacidade de produzir relacionamentos.

As feiras livres da cidade do Rio de Janeiro são verdadeiros centros de convivência. Nela, vendedor vira freguês e vice-versa; não raro, se vê um freguês ajudando na comercialização de produtos. Uma relação de confiança mútua.

Apesar disto, nos dias de hoje, são consideradas malefícios constantes por quem tem uma feira livre na porta de casa. Aliás, isto era um dado que inquietava os técnicos. Como pode um centro de relacionamentos ter tantos problemas de convivência? E logo eles, cidadãos capazes de cativar para comercializar e assim se relacionar!

Esta situação me trouxe a lembrança do quão cordato era o relacionamento de meu pai com os moradores dos locais onde ele montava sua barraca. Nós não precisávamos levar café. Assim que chegávamos, nos era oferecido, quentinho, por moradores que nos agraciavam.

Priscas eras....

Partindo do princípio de que, qualquer atividade comercial só se estabelece se houver reciprocidade, ou seja, alguém vende, alguém compra, e de dados que apontam as feiras livres do município do Rio como responsáveis pela distribuição de aproximadamente 50% de todo hortifrutigranjeiro e de quase 80% de todo o pescado consumido na cidade, a Prefeitura do Rio vem desenvolvendo com ajuda de vários órgãos municipais, dentre eles a Guarda Municipal, um trabalho de ordenamento das feiras livres.

Este trabalho têm foco em duas vertentes:

Repressão – função coercitiva, aonde o Município atua com seu poder de polícia, fazendo autuações e apreensões.

Ordenamento – nesta função, a Prefeitura do Rio atua fazendo pesquisas, medições, acompanhamentos das modificações urbanas e estimula o microdesenvolvimento da atividade legal através de parcerias, como o caso dos cartões de crédito e débito, recém-chegados às feiras do rio, passando pelo processo de conscientização constante do feirante quanto as suas responsabilidades.

Com estas ações geramos sinergia suficiente para criar cidadania. Além disso, nos últimos anos, a Prefeitura do Rio não concedeu nenhuma autorização para a realização de feiras; pelo contrário, muitas foram extintas em face da sua incapacidade de se relacionar com as comunidades aonde estavam instaladas. Muitas ainda estão sob observação e podem ser extintas.

O trabalho desenvolvido pela Divisão de Feiras da Coordenação de Controle Urbano, começa a apresentar resultados. O reordenamento da feira de Guadalupe, às quinta-feiras, é um marco na modificação dos comportamentos. O grande desafio agora é manter esta situação, ajudando o microdesenvolvimento da cidade, mas respeitando firmemente o direito do cidadão.

É necessário trabalhar diariamente.

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