quinta-feira, 16 de julho de 2009

O vai e vem das operações choque de ordem

É realmente uma pena. Tanto dinheiro gasto para descobrir, na prática, o que nós já falávamos há muito tempo. A reportagem do RJTV desta quinta-feira, dia 16 de julho, foi transparente. Aquilo é a realidade nua e crua. Não adianta dar 'choque' se não modificarmos comportamentos, atitudes, hábitos. Faltam cidadania e meios operacionais.
Preciso fazer memória sobre tudo que já foi publicado sobre o tema.
Entre 1993 e 1996, a Prefeitura do Rio aplicou o maior e mais longo 'choque de ordem' já realizado nesta cidade após as modificações da era Pereira Passos. Tinha até um xerife! A repórter Selma Schimidt estampou no periódico onde trabalha a seguinte frase “O novo Xerife do Rio”. Referia-se ao servidor público Ruy Cesar, então Coordenador de Licenciamento e Fiscalização da Prefeitura. Na Eleição de 1986, Ruy elegeu-se Vereador.
Os jornais da época estão recheados de manchetes sobre as invasões feitas em áreas públicas e privadas não repelidas e, muitas das vezes, estimuladas pelos governos - como foi o caso da ocupação do logradouro público por atividades econômicas no Rio de Janeiro.
Entre 1989 e 1982, diversos jornais estamparam fotos de gangs agindo no meio do 'mafuá urbano' que eram as ruas de nossa cidade. Não era possível ver uma pedra portuguesa dos calçadões de Copacabana. As imagens não nos deixam mentir.
De lá para cá, foram diversas as tentativas de dominar a desordem. Em muitas delas fomos derrotados; em outros, aprendemos muito.
Mas o principal foi entender a multi-funcionalidade da desordem urbana, uma vez que, tal e quais outras atividades ilícitas por trás dela, o que realmente existe, é, na verdade, um processo econômico informal.
Diversos governos da década de 80 usaram o logradouro público como colchão de amortecimento da pobreza. Por diversas vezes, servidores municipais da fiscalização tiveram que enfrentar os desordeiros - sem apoio dos policias. O Estado fingia não ver. As imagens dos conflitos eram capa dos jornais.
Era o fim da Ditadura e o inicio da era do lumpesinato.
Após 28 anos de exercício de minhas atividades como servidor público municipal, posso afirmar que "o vai e vem das ilegalidades" é o resultado das operações de choque ordem sem a criação de políticas publicas que possibilitem a ocupação do logradouro público de forma ordeira.
É por isso que o barco do discurso da ordem já está começando a vazar. O que vai restar é uma grande sensação de estar enxugando gelo. Podiam ter evitado isto se tratassem do tema como política publica e não, mais uma vez, como mote de campanha.

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